Ao andar pelas ruas de Curitiba–PR não é difícil encontrar um de seus principais personagens urbanos: o Oil Man. Montado em uma bicicleta, coberto por óleo bronzeador e trajando apenas uma sunga, ele pedala por toda a cidade quase diariamente, causando as mais variadas reações da população que o encontra. Nelson Rebello, nome de batismo do atleta da capital paranaense, é um apaixonado por esportes que percorre cerca de 30 quilômetros por dia sem se importar com as opiniões a seu respeito ou com as baixas temperaturas da cidade, com o objetivo de superar seus próprios limites.
Irmão mais velho de uma família de três filhos, desde pequeno já gostava de esportes, porém, dedicou-se ao futebol nos campinhos de seu bairro até os doze anos, como qualquer menino sem recursos financeiros para investir em outra modalidade. Sonhava em ser biólogo e poder trabalhar com a natureza. “Era uma criança que só pensava em bicho”, como ele mesmo define. Em sua juventude chegou a pensar na possibilidade de cursar medicina, mas achava que seria muito difícil e concluiu que deveria mesmo ser biólogo.
Em 1980 entrou para o curso de biologia da Universidade Federal do Paraná e descobriu também a paixão pelo basquete. Dividia seu tempo entre a faculdade e as partidas com os amigos do time. Se formou em 1989 pois durante o período do curso passou por algumas dificuldades financeiras. Seus pais o ajudaram a se formar e Nelson começou a trabalhar na área apenas depois de formado. Realizando seu sonho de biólogo, trabalhou durante duas décadas em sua área profissional, até que resolveu aposentar-se. Atualmente é autodidata nas ciências biológicas.
Em 1991, com 31 anos, sofreu uma fratura no tornozelo esquerdo em uma partida de basquete e resolveu se tratar por conta própria, pois não sabia que estava fraturado. Sua recuperação demorou quase quatro anos. Com os danos causados pela fratura, Nelson teve que escolher outro esporte pois não poderia mais jogar basquete.
Em 1993 comprou uma bicicleta e, assim, começou sua dedicação ao ciclismo, na tentativa de voltar ao esporte. Pedalar e caminhar na praia eram suas atividades escolhidas para ajudá-lo a voltar aos esportes. De 1991 a 1996, a recuperação e os exercícios na areia da praia foram sido trazidos para a cidade, época que Nelson classifica como período pré-Oil Man.
Em 1995, desenvolveu a idéia de andar em Curitiba só com uma sunga e coberto por óleo bronzeador, trazendo o traje que utilizava no litoral para as ruas da cidade, porém, planejava apenas caminhar sem tênis, como se estivesse na praia, entretanto chegou a conclusão de que não era algo viável pois seria cansativo e perigoso, além do risco de sofrer perseguição na rua por ser diferente. Por isso pensou também em usar uma motocicleta, mas desistiu, pois andando sobre um veículo motorizado, não estaria praticando esporte e não gastaria energia em exercícios. Com isso, teve a idéia de utilizar uma bicicleta e colocou seu projeto em pratica em agosto de 1997, marcando o surgimento do Oil Man em Curitiba.
Sua trajetória curitibana começou pelos bairros afastados do centro, em busca de mais espaço livre para pedalar. Depois de três anos de rotina quase diária de exercícios, finalmente começou a andar pelo Centro da cidade. O título de Oil Man surgiu em uma de suas aventuras sobre sua bicicleta, ao ser apontado por uma garota que o chamou desta forma, obviamente devido a quantidade de óleo bronzeador espalhado por seu corpo, em média 100ml por dia. Nelson simpatizou com o apelido e aderiu ao novo nome.
Um fator bem esclarecido para o atleta é a relação com sua dupla personalidade. “Não há diferença entre o Nelson e o Oil Man. O Oil é quando o Nelson faz esporte, não é um personagem fictício, mas sou eu. Não consigo representar um personagem pois não sou um ator e não vejo nenhum motivo para interpretar”, afirma. Segundo ele, as diversas imagens de seu trabalho podem ser consideradas como as facetas do Oil Man: a de um atleta, um artista, um super herói ou um cantor. Para ele, o que importa são as visões positivas do seu personagem, pois os comentários negativos ele prefere ignorar.
De acordo com Nelson, um grande desafio enfrentado pelo Oil Man é o desrespeito e a violência das pessoas em relação a ele: “Muitos homens torcem contra mim. As pessoas já sabem tudo sobre o Oil Man e não querem entender, e esse é o problema, já chegam me ofendendo. Desde o mendigo na rua até pessoas de poder, todos se incomodam. Sempre tem algum que vem tirar satisfação comigo. Depois de tantos anos já acostumei a conviver com isso, não posso me importar com o que falam, meu desafio é comigo mesmo. Afinal, esse é o esporte do Oil Man, fazer seu trabalho e enfrentar o preconceito”. Segundo ele, algumas pessoas se sentem superiores a ele e se aproveitam das situações para ofendê-lo, mas Nelson garante que não liga para isso: “A gente vai aprendendo”, conclui.
Para o atleta, em mais de 12 anos de existência do personagem, ganhar dinheiro com o esporte nunca foi seu objetivo: “Isso é secundário para mim. Preciso me preocupar mesmo é com minha saúde”, afirma. Atualmente, o atleta garante que está em uma nova fase, de um Oil Man mais velho e mais cuidadoso. “Sempre cuidei da saúde, mas agora tenho que ser mais objetivo e mais prático. Não adianta eu fazer o Oil man só para ser famoso”, diz.
Além da paixão pelo esporte, Nelson Rebello revela que gosta muito de música. Segundo ele, sua dedicação pelo canto surgiu como qualquer outra pessoa normal, desde cedo. O atleta tem preferências musicais variadas e acompanha as tendências. Possui alguns artistas preferidos, como Elvis Presley, e se diverte muito com musicas da época das discotecas, mas sem deixar de lado as músicas modernas. Possui uma banda, a Oil Band, que se formou após o contato com um empresário americano que conheceu o Oil Man pela televisão. Mesmo com o talento musical de Nelson, que é vocalista da banda, o grupo não está fazendo shows temporariamente e não tem previsão de retorno, porém, já possui seguidores em alguns sites de relacionamento da internet.
Quanto ao seu figurino, o atleta garante que não faz nem tem intenção alguma de fazer apologia sexual, mas sim ao esporte e a saúde. Para ele, o Oil Man é um personagem alheio a tudo isso. “Hoje em dia a minha postura é mais voltada ao infantil, como os lutadores dos desenhos e super-heróis. Nunca tive nada a ver com erotismo, o consciente coletivo é de que qualquer pessoa com pouca roupa tem a ver com sexo. Discordo dessa afirmação, mas infelizmente não posso mudar isso”, argumenta.
Atualmente Nelson ainda mora com sua mãe na mesma casa em que cresceu e passou toda sua vida, está com 50 anos de idade e não possui filhos nem esposa, afirma que as vezes se sente só, mas que é possível superar as tristezas ajudando aos outros.
Segundo o Oil Man, ao contrário do que muitos pensam, seu trabalho não tem papel de defender bandeiras ou causas sociais, além de não ser revolucionário e nem fazer protestos, pois acredita que se fosse assim entraria no lugar comum. “Muita gente faz protesto das mais variadas formas, eu seria só mais um. Sou um simples atleta com característica de super herói”, relata.
Além disso, Nelson afirma ter certeza de que valeu a pena toda sua caminhada, mesmo com as inúmeras dificuldades. “Sinto orgulho até de minhas quedas por poder levantar e subir novamente na bicicleta, é uma vitoria muito grande. Orgulho-me também de ter tido a idéia de fazer o Oil Man e sei que o esporte prepara o atleta para as adversidades da vida”.