domingo, 4 de novembro de 2012

Versos rimados, porém demorados

Com o dia pacato
Eu pude entender
Que sozinho ele é chato
Até na TV

Aquele domingo 
Passado dormindo
Me fez perceber
Seu novo sentido

As horas que travam
Os relógios que vejo
Não rodam os ponteiros
Que tanto desejo

Hoje o silêncio 
Fala por mim
E eu que bem sei
Que nunca foi assim

Os tantos assuntos
Que adoro lembrar
Agora guardados
Vão ter que esperar

E a segunda-feira
Que chega atrasada
Já ganha a missão
De me tirar do nada.

(PARIS, Letícia. 2012)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Manual da Vida na Fazenda da cidade

Todos os dias programo o som de galo do celular para cantar e me acordar..
Ao levantar, ordenho a caixinha de leite e saboreio o pão que tenho a certeza de que é caseiro mas que sei que nem foi feito em casa. A padaria fica ao lado da plantação de café, milho, açúcar, quero dizer, supermercado..
Me arrumo, visto minha bota e arreio meu cavalo esticando a mão para parar o ônibus. O galoupante lotad...o me traz a sensação de estar no galinheiro da minha fazenda imaginária. Só não cabe perfeitamente a comparação porque a moradia das minhas aves chegaria no horário marcado!
Depois de longos e muitos minutos no rodeio de equilíbrio da condução, passo o dia na lavoura, manuseando a enxada dos papéis e cliques no mouse e semeando as letras na terra fertilizada do word.
Enfrento o galinheiro móvel para voltar da lavoura profissional rumo ao meu chalé no quarto andar. Mesmo em meio a gritaria e chuva de penas, pego minha viola guardada no MP alguma coisa e conecto ao fone de ouvido para terminar o dia, observando a lua que aparece atrás da montanha quadrada, cheia de janelinhas e luzes acesas...

(PARIS, Letícia. 2012)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Jornalismo é como futebol..

Existem dias em que nenhuma reportagem funciona, o juiz marca impedimento em todas as entrevistas que você tenta marcar, a gente perde o pênalti da cobertura exclusiva, a torcida manda milhões de e-mails reclamando do lance incrível que você perdeu ao esquecer uma vírgula no texto.
Em outros dias, porém, a bola rola ao nosso favor, a gente consegue chutar o escanteio e c...hegar a tempo na pequena área para marcar de bicicleta! Os entrevistados nos dão resposta dentro do prazo, e a zaga dos outros jornais sempre mostram um espaço pra contra-atacar. Mesmo na prorrogação, nesses dias de jogo bom a gente pensa em um assunto que ninguém falou e arma uma jogada digna de seleção. Aí, fica a sensação de dever cumprido, e não se sente o peso da camisa 10 do crachá de imprensa.
Mas é justamente esse jogo de golaços e frangos que motivam a sempre voltar com todo o ânimo aos gramados da redação!
 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Adolfo Guidi: dedicação e luta pela vida de um filho

Até onde o amor de um pai pode chegar para salvar a vida de seu filho? A história de Adolfo Celso e Vitor Guidi demonstra claramente este poder ilimitado do amor paterno.

Amor ao próximo sempre foi um dos princípios de Adolfo Celso Guidi, que desde pequeno gostava muito de ajudar aos outros. O ponto marcante de sua história de vida começa anos depois de uma trajetória de sucesso. Já casado e bem sucedido profissionalmente, Adolfo desfrutava de uma rotina intensa de trabalho e vivia com sua esposa e seu filho Vitor Giovani Thomaz Guidi, um garoto saudável e muito inteligente, que protagonizaria os próximos desafios de seu pai.

Hiperativo e muito esperto, Vitor era a alegria da casa da família Guidi, sempre sorrindo e feliz, o garoto cursou o Jardim I e II e, aos cinco anos seria matriculado na primeira série, pois era considerado uma criança a frente dos colegas de turma. Porém, alguns meses antes deste início no ensino fundamental, a escola onde ele estudava convocou uma reunião com seus pais, o tema da conversa eram as dificuldades apresentadas pelo menino. De um mês para o outro, tudo mudou no comportamento de Vitor. O garoto apresentava dificuldades em segurar o lápis e em realizar suas atividades. Sem conseguir escrever, o menino ensinava explicando aos seus colegas e isso acabava atrapalhando o andamento de suas aulas.

Com o agravamento da doença do filho, Guidi recorreu a vários médicos no país e nenhum deles conseguiu apresentar um diagnóstico. Depois de muitos exames, um dos doutores sem resposta ao caso do menino indicou a seu pai o contato com um laboratório argentino que poderia diagnosticar o caso de Vitor. O amor pelo jovem e a dedicação em descobrir qual era o mal que lhe afetava levou a família a Buenos Aires durante uma semana, realizando exames. Do laboratório Argentino veio a resposta ao questionamento sobre a doença do garoto: Vitor era portador de Gangliosidose GM1, uma doença degenerativa que apresenta-se de diversas maneiras, caracterizada como um erro do metabolismo na produção da enzima beta-galactosidade, degenerando as células cinzentas. O acúmulo de substâncias no corpo do indivíduo prejudica a utilização dos músculos e, com o tempo, o portador morre por falência múltipla dos órgãos.

Diante dos exames, o médico responsável esclareceu que não havia mais nada para fazer, pois a doença não possuía cura e, em geral, seus portadores sobrevivem, no máximo, até os onze anos de idade. Com muitos motivos para desanimar, o pai de Vitor resolveu abraçar o desafio de encontrar a cura para seu filho, mesmo contrariando a medicina e todos os estudos já realizados até a época. “Quando o médico me disse que ele não teria muito tempo de vida eu decidi que não aceitaria isso e que iria lutar como pudesse para salvá-lo”, afirma Guidi.

Assim, o engenheiro mecânico deixou seu papel básico de pai e passou a dedicar-se também na função de pesquisador, decidiu abandonar seu emprego bem sucedido na concessionária de veículos e todas as suas atividades para empenhar-se na busca pela cura ou tratamento para a doença de seu filho. Consciente de que a troca de sua carreira profissional lhe custaria muitos desafios, Guidi pegou o dinheiro resultante do acerto pelo longo tempo de trabalho e tentou negociar com o banco a quitação de sua casa, que havia sido financiada. Porém, o banco não aceitou sua proposta e ele decidiu investir totalmente na descoberta de um tratamento para Vitor.

Com um objetivo motivado pela decisão fixa de não se deixar abater pelos resultados dos diagnósticos do filho, o pai dedicado passou a frequentar diariamente a biblioteca do setor de Medicina da Universidade Federal do Paraná, onde dedicava as horas de seus dias empenhado no estudo de enzimologia e das diversas áreas que poderiam levá-lo a inédita descoberta de como reverter o quadro clínico de Vitor.

Contrariando todas as expectativas de reação, Adolfo foi criticado por muitos, que afirmavam ser loucura sua atitude de renúncia por uma pesquisa arriscada em busca de uma cura improvável para o garoto. Nesta época, Guidi já possuía maiores responsabilidades por sua família, visto que já possuíam mais uma filha, a Gabriella, cujo nome foi escolhido pelo próprio Vitor. Com isso, muitos amigos e familiares afirmavam não ser sensata a sua decisão e seu pensamento excessivamente otimista. Porém, mesmo com as críticas, o pai empenhado prosseguia seus estudos.

Depois de longos meses de dedicação, chegou a conclusão de que era preciso entender o funcionamento da doença e descobrir como resolvê-la. No caso de Vitor, Adolfo descobriu que era necessário suprir seu metabolismo e forçar o corpo do garoto a produzir da enzima que lhe faltava. Encontrando a solução necessária para o tratamento do filho, Guidi encontrou também, após um ano e meio de estudos, a enzima que poderia ser utilizada na realização deste tratamento. Em seguida, a busca foi intensa para encontrar laboratórios que poderiam disponibilizar estas enzimas. Com muita pesquisa e dedicação, sua busca obteve resultado, e Adolfo conseguiu elaborar um medicamento inédito para Vitor. Durante seis meses de tratamento com a solução elaborada pelo pai, o garoto passou a apresentar indicativos de melhoras em seu organismo. Sua percepção das coisas ao redor foi evoluindo, a rigidez de seus músculos foi cedendo, passou a apresentar expressões faciais que antes não apresentava, até que sua doença, caracterizada como degenerativa, não avançou mais.

Com a felicidade de ter encontrado a possível solução dos problemas do filho, Guidi teve que enfrentar uma nova disputa, agora não mais com a medicina, mas desta vez para não perder sua casa, que estava indo a leilão. Com os gastos inevitáveis pelos exames e pelas pesquisas e sua renúncia ao emprego para dedicar-se a Vitor, Adolfo teve que deixar de pagar as prestações do financiamento, o que lhe custaria a posse do imóvel.

Empenhado em manter o único imóvel da família, o engenheiro buscava reverter o processo que, assim com a doença do filho, parecia irreversível, e se estendeu por nove anos. Durante este tempo, a dívida, que era de 24 mil reais, passou a custar quase 120 mil. Muitas negociações e noites sem sono faziam parte da rotina de Guidi, que desde o começo seguia confiante de que tudo acabaria bem. Com otimismo e confiança em Deus, os resultados começaram a aparecer mesmo em meio as dificuldades. Um advogado conhecido aceitou realizar a ação e defendê-lo para receber quando ele pudesse pagar, já que o pagamento antecipado era inviável para o pai de Vitor.

Com o processo em andamento, o caso passou por várias audiências de negociação, a primeira delas em Curitiba, sendo encaminhado para Porto Alegre e, em seguida, para Brasília. Segundo Guidi, desde a primeira audiência a certeza de um bom resultado já aumentava sua fé na providência. “Eu dizia ao advogado e as pessoas com quem conversava que a casa seria minha, ninguém acreditava muito, mas eu sabia que Deus estava comigo e não iria me abandonar”, afirma.

Na segunda audiência realizada, o valor cobrado pelo banco diminuiu de 119 mil para pouco mais de 48 mil reais. Guidi ainda não tinha condições de pagar, pois a renda que possuía era resultado dos pequenos trabalhos que realizava na modesta oficina mecânica montada em sua casa. Ainda sem uma solução para seu problema, Guidi continuava o tratamento que havia descoberto e os cuidados com a doença de Vitor. Encaminhado para a terceira negociação, que a princípio seria realizada em Brasília, mas que por um mutirão judicial, foi transferida para Curitiba, o caso estava perto de uma solução.

Adolfo decidiu então apresentar Vitor, contar sua história e os motivos pelos quais não havia conseguido pagar a casa, e assim comoveu os conciliadores e juízes presentes na audiência. Mesmo assim, pediu para que não fosse visto com pena, mas apenas que considerassem seus argumentos, que eram a razão de sua dificuldade em quitar o valor cobrado.

Ao conhecer a história de dificuldades e superação de Guidi, a juíza Anne Karina Stipp Amador Costa, titular da Vara do Sistema Financeiro de Habitação de Curitiba e, além disso, mãe de três filhos, elaborou uma possível solução. Anne propôs que o caso fosse encaminhado a Vara Criminal, onde já havia trabalhado como juíza. A possível solução viria de um enquadramento do caso no fundo pecuniário, que destina a verba arrecadada com detentos (fianças, etc.) e é encaminhada a instituições de ação social públicas e privadas. A aceitação para o caso de Guidi seria uma exceção, visto que jamais houve um caso de pessoa física inscrito no programa.

Em uma decisão inédita no País, o projeto de Anne Karina foi aprovado, e o Ministério Público, junto a Vara Criminal, decidiu quitar a dívida da casa. Com isso, Guidi ganhou o direito de continuar em sua casa e prosseguir com seus trabalhos na oficina mecânica montada em sua garagem. Segundo Anne Karina, a excepcionalidade da história e a força de vontade do pai de Vitor fizeram a diferença na resolução do processo. “Sempre procuramos ajudar as pessoas que precisam, e a história de Adolfo comoveu a todos. A Juíza da vara Criminal decidiu que era possível resolver e nos esforçamos para poder ajudá-lo. Acho que confiar com toda a sua fé fez com que ele solucionasse seu problema. Quando a gente faz nossa parte o universo conspira a nosso favor, e o Adolfo fez tudo o que podia fazer para salvar seu filho e conseguiu”, relata.

Solucionado, o caso de Adolfo abriu a oportunidade de resolução para o problema de várias outras pessoas. De acordo com a juíza Anne, o que chamou a atenção neste caso, foi a postura de Adolfo diante das dificuldades, sua atitude de não se colocar como vítima em nenhum momento. Para ela, abandonar a carreira e doar sua vida para dedicá-la ao Vitor foi um extremo ato de amor e doação realizado por Guidi.

Depois de solucionado o problema com a dívida, Adolfo vive hoje na residência de onde tira seu sustento. Além dos trabalhos com a oficina mecânica, realiza o trabalho de tesoureiro voluntário na Escola de educação Especial 29 de Março, onde seu filho Vitor estuda. Na instituição, ele compartilha de sua experiência e força de vontade, ajudando no trabalho realizado com 105 alunos portadores de necessidades especiais diferentes. O tratamento descoberto por ele já faz traz resultados para outras crianças, porém, ainda não é reconhecido pela medicina. Com os cuidados do pai, Vitor, hoje com 22 anos de idade, foi o primeiro portador da doença a viver mais de 12 anos e apresenta bom estado clínico.

Para Guidi, a maior felicidade hoje é poder ter seu filho por perto. Segundo ele, Vitor é o grande herói desta história. “Por mim mesmo eu não teria conseguido suportar tudo isso. Minha fé e confiança em Deus me levaram a encarar as dificuldades, além do meu amor pelo Vitor, que sempre manteve a vontade de viver e a alegria. Afinal, que pai não doaria a vida por seu filho?”, conclui.

Letícia Paris

Reportagem publicada em 2010 na Revista O Mensageiro de Santo Antônio
(Vencedora do Prêmio Nacional Dom Helder Câmara de Imprensa 2011 - CNBB)

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Oil Man: originalidade sobre rodas pelas ruas de Curitiba

Ao andar pelas ruas de Curitiba–PR não é difícil encontrar um de seus principais personagens urbanos: o Oil Man. Montado em uma bicicleta, coberto por óleo bronzeador e trajando apenas uma sunga, ele pedala por toda a cidade quase diariamente, causando as mais variadas reações da população que o encontra. Nelson Rebello, nome de batismo do atleta da capital paranaense, é um apaixonado por esportes que percorre cerca de 30 quilômetros por dia sem se importar com as opiniões a seu respeito ou com as baixas temperaturas da cidade, com o objetivo de superar seus próprios limites.

Irmão mais velho de uma família de três filhos, desde pequeno já gostava de esportes, porém, dedicou-se ao futebol nos campinhos de seu bairro até os doze anos, como qualquer menino sem recursos financeiros para investir em outra modalidade. Sonhava em ser biólogo e poder trabalhar com a natureza. “Era uma criança que só pensava em bicho”, como ele mesmo define. Em sua juventude chegou a pensar na possibilidade de cursar medicina, mas achava que seria muito difícil e concluiu que deveria mesmo ser biólogo.

Em 1980 entrou para o curso de biologia da Universidade Federal do Paraná e descobriu também a paixão pelo basquete. Dividia seu tempo entre a faculdade e as partidas com os amigos do time. Se formou em 1989 pois durante o período do curso passou por algumas dificuldades financeiras. Seus pais o ajudaram a se formar e Nelson começou a trabalhar na área apenas depois de formado. Realizando seu sonho de biólogo, trabalhou durante duas décadas em sua área profissional, até que resolveu aposentar-se. Atualmente é autodidata nas ciências biológicas.

Em 1991, com 31 anos, sofreu uma fratura no tornozelo esquerdo em uma partida de basquete e resolveu se tratar por conta própria, pois não sabia que estava fraturado. Sua recuperação demorou quase quatro anos. Com os danos causados pela fratura, Nelson teve que escolher outro esporte pois não poderia mais jogar basquete.

Em 1993 comprou uma bicicleta e, assim, começou sua dedicação ao ciclismo, na tentativa de voltar ao esporte. Pedalar e caminhar na praia eram suas atividades escolhidas para ajudá-lo a voltar aos esportes. De 1991 a 1996, a recuperação e os exercícios na areia da praia foram sido trazidos para a cidade, época que Nelson classifica como período pré-Oil Man.

Em 1995, desenvolveu a idéia de andar em Curitiba só com uma sunga e coberto por óleo bronzeador, trazendo o traje que utilizava no litoral para as ruas da cidade, porém, planejava apenas caminhar sem tênis, como se estivesse na praia, entretanto chegou a conclusão de que não era algo viável pois seria cansativo e perigoso, além do risco de sofrer perseguição na rua por ser diferente. Por isso pensou também em usar uma motocicleta, mas desistiu, pois andando sobre um veículo motorizado, não estaria praticando esporte e não gastaria energia em exercícios. Com isso, teve a idéia de utilizar uma bicicleta e colocou seu projeto em pratica em agosto de 1997, marcando o surgimento do Oil Man em Curitiba.

Sua trajetória curitibana começou pelos bairros afastados do centro, em busca de mais espaço livre para pedalar. Depois de três anos de rotina quase diária de exercícios, finalmente começou a andar pelo Centro da cidade. O título de Oil Man surgiu em uma de suas aventuras sobre sua bicicleta, ao ser apontado por uma garota que o chamou desta forma, obviamente devido a quantidade de óleo bronzeador espalhado por seu corpo, em média 100ml por dia. Nelson simpatizou com o apelido e aderiu ao novo nome.

Um fator bem esclarecido para o atleta é a relação com sua dupla personalidade. “Não há diferença entre o Nelson e o Oil Man. O Oil é quando o Nelson faz esporte, não é um personagem fictício, mas sou eu. Não consigo representar um personagem pois não sou um ator e não vejo nenhum motivo para interpretar”, afirma. Segundo ele, as diversas imagens de seu trabalho podem ser consideradas como as facetas do Oil Man: a de um atleta, um artista, um super herói ou um cantor. Para ele, o que importa são as visões positivas do seu personagem, pois os comentários negativos ele prefere ignorar.

De acordo com Nelson, um grande desafio enfrentado pelo Oil Man é o desrespeito e a violência das pessoas em relação a ele: “Muitos homens torcem contra mim. As pessoas já sabem tudo sobre o Oil Man e não querem entender, e esse é o problema, já chegam me ofendendo. Desde o mendigo na rua até pessoas de poder, todos se incomodam. Sempre tem algum que vem tirar satisfação comigo. Depois de tantos anos já acostumei a conviver com isso, não posso me importar com o que falam, meu desafio é comigo mesmo. Afinal, esse é o esporte do Oil Man, fazer seu trabalho e enfrentar o preconceito”. Segundo ele, algumas pessoas se sentem superiores a ele e se aproveitam das situações para ofendê-lo, mas Nelson garante que não liga para isso: “A gente vai aprendendo”, conclui.

Para o atleta, em mais de 12 anos de existência do personagem, ganhar dinheiro com o esporte nunca foi seu objetivo: “Isso é secundário para mim. Preciso me preocupar mesmo é com minha saúde”, afirma. Atualmente, o atleta garante que está em uma nova fase, de um Oil Man mais velho e mais cuidadoso. “Sempre cuidei da saúde, mas agora tenho que ser mais objetivo e mais prático. Não adianta eu fazer o Oil man só para ser famoso”, diz.

Além da paixão pelo esporte, Nelson Rebello revela que gosta muito de música. Segundo ele, sua dedicação pelo canto surgiu como qualquer outra pessoa normal, desde cedo. O atleta tem preferências musicais variadas e acompanha as tendências. Possui alguns artistas preferidos, como Elvis Presley, e se diverte muito com musicas da época das discotecas, mas sem deixar de lado as músicas modernas. Possui uma banda, a Oil Band, que se formou após o contato com um empresário americano que conheceu o Oil Man pela televisão. Mesmo com o talento musical de Nelson, que é vocalista da banda, o grupo não está fazendo shows temporariamente e não tem previsão de retorno, porém, já possui seguidores em alguns sites de relacionamento da internet.

Quanto ao seu figurino, o atleta garante que não faz nem tem intenção alguma de fazer apologia sexual, mas sim ao esporte e a saúde. Para ele, o Oil Man é um personagem alheio a tudo isso. “Hoje em dia a minha postura é mais voltada ao infantil, como os lutadores dos desenhos e super-heróis. Nunca tive nada a ver com erotismo, o consciente coletivo é de que qualquer pessoa com pouca roupa tem a ver com sexo. Discordo dessa afirmação, mas infelizmente não posso mudar isso”, argumenta.

Atualmente Nelson ainda mora com sua mãe na mesma casa em que cresceu e passou toda sua vida, está com 50 anos de idade e não possui filhos nem esposa, afirma que as vezes se sente só, mas que é possível superar as tristezas ajudando aos outros.
Segundo o Oil Man, ao contrário do que muitos pensam, seu trabalho não tem papel de defender bandeiras ou causas sociais, além de não ser revolucionário e nem fazer protestos, pois acredita que se fosse assim entraria no lugar comum. “Muita gente faz protesto das mais variadas formas, eu seria só mais um. Sou um simples atleta com característica de super herói”, relata.

Além disso, Nelson afirma ter certeza de que valeu a pena toda sua caminhada, mesmo com as inúmeras dificuldades. “Sinto orgulho até de minhas quedas por poder levantar e subir novamente na bicicleta, é uma vitoria muito grande. Orgulho-me também de ter tido a idéia de fazer o Oil Man e sei que o esporte prepara o atleta para as adversidades da vida”.

Letícia Paris
(Publicado em 2010 na Revista O Mensageiro de Santo Antônio)

sábado, 29 de outubro de 2011

Zilda Arns, uma vida dedicada aos mais necessitados

A pequena cidade de Forquilhinha, em Santa Catarina, é o cenário do início de uma bela história de vida baseada no amor e solidariedade em favor das crianças, idosos e famílias pobres de todo o mundo. Foi neste humilde município que nasceu Zilda Arns, em 25 de agosto de 1934. Décima terceira, dos 16 filhos de Gabriel Arns e Helene Steiner, ambos brasileiros vindos de famílias alemãs, sempre manifestou o desejo e a prontidão em servir. Aos 7 anos de idade, dedicava sua atenção ao cuidar das crianças menores durante os horários de missas. Na época, poucos conseguiriam imaginar, mas a pequena solidária não era apenas uma criança comum, e aquele era o início de uma trajetória digna de uma mulher a frente de seu tempo.

O tempo passou e, em 26 de dezembro de 1959, Zilda casou-se com Aloísio Bruno Neumann, adquirindo seu sobrenome. Ao lado dele, instituiu sua família e viveu 19 anos, até que, em 1978, Aloísio veio a falecer. Durante este tempo, o casal teve 6 filhos, sendo que dois deles faleceram: Marcelo, três meses após o parto, e Silvia, em um acidente de automóvel, em 2003. Mesmo sentindo na pele a dor de uma mãe que perde os filhos, seu coração solidário resistiu a todos os obstáculos, e sua força de vontade sempre prevaleceu em meio as dificuldades.

Em busca de conhecimento e base teórica para aplicar sua força de vontade, cursou medicina na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e se especializou em sanitarismo, saúde pública e pediatria, adquirindo embasamento para o combate as doenças e a busca pela melhoria de vida das comunidades carentes, que sofriam com a mortalidade infantil e a falta de cuidados básicos com a saúde das crianças, motivo de grande preocupação social e razão do trabalho de Zilda.

Durante sua caminhada profissional, atuou como pediatra no Hospital de Crianças César Pernetta, na cidade de Curitiba, onde cuidava de bebês com menos de um ano de idade. Em todo tempo de trabalho, sua dedicação pelas crianças se manifestava em parceria com sua trajetória como médica. A pediatra também trabalhou como chefe da divisão de Proteção Social do Departamento da Criança da Secretaria de Saúde Pública do Paraná e como diretora técnica da associação filantrópica Sara Lattes, onde assimilava seu talento médico com sua paixão pela causa dos pobres e menos favorecidos.

Em 1980, foi a coordenadora da campanha de vacinação Sabin e trabalhou no combate a primeira epidemia de poliomielite, que teve início no Estado do Paraná, na cidade de União da Vitória. A partir deste trabalho, Zilda uniu seus conhecimentos médicos e sua intimidade com o serviço aos mais necessitados e desenvolveu um eficiente método inovador, que foi, posteriormente, adotado pelo Ministério da Saúde.

Seu talento passou a ser reconhecido por médicos e diversos outros profissionais, conhecedores das atividades que ministrava, tanto na área social, como no tratamento aos doentes.

Analisando a necessidade da população, elaborou um projeto com a ajuda do irmão, Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, através do qual acreditavam ser possível a atuação entre a comunidade e a igreja na melhoria de vida de crianças necessitadas e desnutridas das comunidades carentes por todo o País. O projeto-piloto foi desenvolvido em Florestópolis, no Paraná, onde percebeu uma preocupante realidade. Com o desenvolvimento das atividades de conscientização e prevenção, os índices de mortalidade infantil, desnutrição e outros agravantes diminuíram consideravelmente, e o sonho de Zilda Arns ganhou reconhecimento em todo o País.

Sabendo dessa afinidade intensa com a causa dos carentes e do sucesso no seu trabalho, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio da Unicef, convidou a pediatra para implantar a Pastoral da Criança nos demais Estados do País em 1983, tornando-a coordenadora nacional do projeto. Segundo Zilda, a certeza de sucesso da Pastoral era presente desde sua fundação, pois se tratava de um trabalho com a conscientização das mães que, muitas vezes, possuíam filhos adoentados por não terem conhecimento sobre alguns cuidados fundamentais na prevenção de doenças e no combate a desnutrição.

O bem-sucedido método de Zilda se baseia no treinamento de voluntários das próprias comunidades onde vivem, fazendo com que o acompanhamento das famílias seja mais eficaz e que o pensamento solidário de ajuda ao próximo aconteça em todas as partes do País. Sempre pregando o amor a vida, princípio básico de dona Zilda, como a chamavam em muitos dos lugares por onde passava, seu projeto valoriza a prevenção, a partir dos hábitos e da melhora na qualidade de vida das comunidades, distribuindo e orientando a educação e o conhecimento entre as famílias.

Seu espírito de mãe zelosa sempre se estendeu aos filhos das mães necessitadas, e inspirou a dedicação de toda uma vida, com seu trabalho de assistência e cuidados com a saúde e o bem estar das pessoas. Assim, nos quase 27 anos de existência da Pastoral, mais de 1milhão e meio de famílias já foram atendidas em mais de 22 mil comunidades pobres de todo o País, revertendo precárias situações de agravantes taxas de mortalidade e desnutrição. Com idéias inovadoras, como a multi-mistura, que já salvou milhares de crianças, seu trabalho tornou-se a razão de vida de milhões de outras pessoas, dedicadas voluntariamente ao trabalho na Pastoral.

Com o sucesso incontestável do trabalho com as crianças carentes, a CNBB encarregou a corajosa doutora a uma nova missão em 2004: a de fundar e colocar em prática a Pastoral da Pessoa Idosa. Mesmo com os inúmeros compromissos e responsabilidades que lhe cabiam por estar a frente de seu antigo projeto, Zilda aceitou o desafio e passou a conciliar seus horários, muito corridos, a uma rotina dividida entre as duas pastorais. Com sua dedicação e amor em servir, conseguiu estabelecer o segundo projeto em todo o País, levando solidariedade, saúde e cidadania a mais de 100 mil idosos, através do trabalho de mais de doze mil voluntários em 25 Estados.

Durante seus últimos anos de vida, viajou pelo Brasil e pelo mundo ensinando e implantando seus projetos nos mais variados lugares onde há pobreza. Por sua dedicação e pioneirismo, foi indicada em 2006 para o Prêmio Nobel da Paz e, em outras quatro edições, representou a Pastoral da Criança ao concorrer a este mesmo prêmio. Além disso, durante toda sua caminhada, recebeu inúmeras premiações e homenagens em reconhecimento ao seu trabalho.

Em 12 de janeiro de 2010, após ministrar uma palestra sobre o trabalho da Pastoral da Criança, na cidade de Porto Príncipe, no Haiti, Zilda Arns foi uma das milhares de vítimas do violento terremoto que afetou o País, deixando ao mundo um exemplo de dedicação e força de vontade, e às suas estimadas comunidades carentes, um projeto de esperança e alegria de viver. A doutora, missionária, mãe, avó, amiga, irmã dos necessitados, a quem dedicou toda sua historia e seu trabalho, faleceu de maneira heróica: em missão. Mesmo tendo falecido, a certeza que fica entre os que acreditam e vivem sua obra é a de que o projeto de Zilda Arns permanece. Aquela que, por uma simples ironia de seu destino pioneiro, nasceu no dia do soldado e partiu lutando, na aparente guerra por um mundo melhor.

Letícia Paris
(Publicado em Março de 2010, na Revista O Mensageiro de Santo Antônio)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Depois de muito tempo.. Reportagens!

Pois então, depois de alguns muitos meses sem boas piadas por aqui, devido ao tempo mais curto que salário de brasileiro, vou disponibilizar algumas das minhas reportagens na íntegra para ocupar o tempo dos que ainda clicam no link deste modesto blog e para trazer algum conteúdo para os que se encorajarem a ler.
Em breve, voltamos as piadas sobre os acontecimentos deste mundo tão cheio de notícias que mais parecem show de humor.
Obrigada pela visita e volte sempre!